O medicamento Ozempic, aprovado pela Anvisa para o tratamento de diabetes tipo 2, está em falta nas principais redes de farmácia na cidade. A aplicação mais popular, de 1mg, é a mais procurada pelos clientes, conforme a reportagem apurou em visita aos estabelecimentos.
Ozempic é o nome comercial da semaglutida. Seu uso virou febre entre celebridades no Brasil e mundo afora, em especial no consumo off label, ou seja, fora das indicações previstas na bula, ao ser utilizado como alternativa para a perda de peso.
O valor do remédio fica entre R$ 600 e R$ 1,2 mil. O fármaco é aplicado por meio de uma caneta injetável e o valor varia conforme a dosagem, que também é apresentada com 0,25 mg e 0,5 mg.
— A procura muitas vezes não tem a indicação formal de um médico: é alguém que viu a amiga usar determinada dosagem e resolve aplicar também. Está vendendo muito e, agora, com a falta, as pessoas estão procurando por similares com o mesmo princípio ativo — relatou uma funcionária de uma das farmácias.
Segundo a coordenadora de suporte técnico farmacêutico da Rede de Farmácias São João, Nicole Fernandes de Lima, a demanda pelo Ozempic tem sido alta desde 2023, mas cresceu em 2024.
— O Ozempic está passando por uma oscilação no abastecimento desde agosto de 2024. Temos recebido, mas poucas unidades, que acabam não suprindo a totalidade da demanda que temos. Por isso, a demanda do Wegovy (outro comercial da semaglutida) está em crescente desde o lançamento e do Ozempic vem caindo. Muito se deve à oscilação do abastecimento — disse.
O Wegovy é considerado uma alternativa ao Ozempic, mas com diferenças de dosagens e indicação terapêutica. Outra opção similar é o Rybelsus. Mesmo menos conhecidos, também há escassez desses em algumas lojas.
Questionada, a farmacêutica Nova Nordisk, que fornece os três medicamentos, informou que a disponibilidade intermitente do Ozempic se dá pela "demanda maior que a prevista".
A empresa ressalta que não há problemas de qualidade ou regulatórios com nenhuma das apresentações e o produto não será descontinuado.
Em nota, afirmou também que o estoque do produto no mercado deve se restabelecer de forma gradual e não de imediato, mas que a intermitência não afeta a disponibilidade de Wegovy nem de Rybelsus.
Os três fármacos têm a semaglutida como principal composto, servindo para tratamento da diabetes e, em alguns casos, da obesidade, aponta o médico endocrinologista do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), Pérsio Stobbe.
— A molécula semaglutida faz o meio de campo entre a glicose e a insulina, por isso serve para a diabetes. Mas conforme foi se estudando a medicação, se percebeu que também tinha o efeito da perda de peso, e agora também é autorizada e prescrita para a obesidade. Do ponto de vista clínico, o remédio é seguro — explica.
Apesar da medicação ser eficaz no tratamento dos dois problemas, o especialista aponta que ainda não há estudos a longo prazo dos efeitos em demais pacientes ou em casos de gravidez, por exemplo. Stobbe aponta que ainda é preciso observar o uso do remédio em idade fértil.
— O ideal para o uso é ter uma orientação médica de como usar, monitorar, é importante não fazer o uso sozinho, mesmo sendo uma medicação segura. Chama a atenção que, mesmo sendo uma medicação injetável, teve uma aceitação grande do público, que às vezes tem problemas com injeções — acrescenta.
Em junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta para a comercialização de lotes falsificados de Ozempic. O lote MP5A064, descoberto em janeiro, tinha prazo de validade até outubro de 2025.
“A OMS tem observado um aumento da procura desses medicamentos, bem como de relatos de falsificação. Esses produtos falsificados podem ter efeitos nocivos para a saúde das pessoas. Se não tiverem as matérias-primas necessárias, medicamentos falsificados podem levar a complicações de saúde resultantes de níveis de glicose no sangue e peso não controlados", dizia o comunicado.
Em outubro, um lote falsificado da medicação levou uma mulher à internação em hospital no Rio de Janeiro. Ela afirma que comprou o remédio em uma farmácia.
Ainda no início de 2024, a Anvisa proibiu a comercialização de todos os lotes de Ozempic e outros medicamentos pelo site Manual.com.br. Segundo a agência, os itens eram fabricados por empresas desconhecidas e não possuíam registro sanitário, o que viola a legislação vigente.