A profissão que tem como principais objetivos salvar vidas e dar conforto aos pacientes é celebrada em 18 de outubro, Dia do Médico, data em alusão a São Lucas. Esta relação é citada em documentos do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
De origem pagã, a narrativa do catolicismo conta que São Lucas se converteu ao cristianismo sob influência do apóstolo Paulo. Um dos quatro evangelistas no Novo Testamento da Bíblia, o religioso teria atuado como médico e feito referências à profissão ao escrever o Terceiro Evangelho de Jesus Cristo, embora não haja evidências da atuação.
— Essa data está relacionada a São Lucas, muito reconhecido e importante para a Igreja Católica e que foi médico. Então, quando se definiu um dia para o médico, já ficou relacionado a ele — conta Leonardo Pinto, diretor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Em um trecho da Epístola aos Colossenses, 12º segundo livro do Novo Testamento da Bíblia, São Paulo refere-se a Lucas como "o amado médico". A passagem está presente no versículo 14 do quarto capítulo, em que Paulo refuta a doutrina da igreja de Colossos e ressalta a imagem de Jesus Cristo.
Com o compromisso de promover a saúde e o bem-estar, a Medicina é um dos pilares mais importantes da sociedade. Os profissionais da área têm como função compreender o organismo humano, identificar possíveis riscos à saúde e encontrar a melhor forma de tratá-los e preveni-los.
Para celebrar o Dia do Médico, profissão de 598.573 brasileiros em 2024, conforme dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), a reportagem de Zero Hora reuniu curiosidades sobre a área, abordando as primeiras escolas de Medicina instaladas no Brasil e o uso do termo "doutor".
A invasão das tropas napoleônicas ao território português teve influência direta na criação do primeiro curso de Medicina no Brasil. Com a fuga da corte real, a sede do reino de Portugal foi oficialmente transferida ao país.
Conforme o Arquivo Nacional do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), as primeiras escolas de Medicina do Brasil foram instaladas em Salvador e no Rio de Janeiro, a partir da decisão n. 2, de 18 de fevereiro, e pelo decreto de 2 de abril de 1808, assinados com a chegada da realeza de Portugal ao Brasil.
Parte da adaptação para receber a realeza e o povo português foi a criação da Escola Cirúrgica da Bahia. Inaugurada em fevereiro de 1808, algumas aulas foram ministradas no então Hospital Real Militar, em Salvador. Nove meses depois, a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica foi inaugurada no Rio de Janeiro. Ambas foram pedidos do Rei João VI e seguem ativas. A primeira integra a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a segunda faz parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A terceira escola médica do país e primeira da era republicana foi instalada no Rio Grande do Sul, em julho de 1898. Na época, a Faculdade de Medicina (Famed) foi fundada a partir da união da Escola Livre de Farmácia e Química Industrial e do Curso de Partos da Santa Casa de Misericórdia. A Famed é mais antiga do que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instituição da qual faz parte atualmente, e é composta pelos cursos de Medicina e Nutrição.
Utilizado para titular acadêmicos que possuem doutorado em alguma área, o termo "doutor" também é comum no tratamento de médicos. Embora alguns profissionais formados em Medicina não apresentem a titulação, uma lei assinada por Dom Pedro I no século 19 explica a prática.
Chamar o médico de doutor tornou-se um costume enraizado no Brasil. Era 11 de agosto de 1827 quando Dom Pedro assinou um decreto que passou a classificar bacharéis formados na época como doutores, ao instituir os primeiros cursos de Ciências Jurídicas e Sociais do país.
"Os que frequentarem os cinco anos de qualquer dos cursos, com aprovação, conseguirão o grau de bacharéis formados. Haverá também o grau de doutor, que será conferido àqueles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e só os que o obtiverem poderão ser escolhidos para Lentes", diz o artigo 9º da lei de 11 de agosto de 1827.
Apesar da mudança nas leis com a destituição do império e a proclamação da república em 1889, a prática já havia se tornado um costume popularmente difundido no Brasil. É como se doutor e médico virassem homônimos, quando palavras escritas da mesma forma têm significados diferentes.