O organismo humano está exposto a incontáveis substâncias que podem ocasionar uma alergia, seja dermatológica, gastrointestinal ou respiratória. Um quadro alérgico ocorre quando o sistema imunológico entende que uma proteína pode ser ruim ao corpo humano, mesmo que, de fato, ela não seja.
A condição afeta aproximadamente 30% da população brasileira, segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). Em 8 de julho, celebra-se o Dia Mundial da Alergia, data que tem o objetivo de conscientizar sobre a importância com os cuidados de reações alérgicas, potencialmente fatais em alguns casos.
Alergista e imunologista do Núcleo de Alergia e Imunologia dAo Hospital Moinhos de Vento, Helena Fleck Velasco caracteriza as reações alérgicas como uma “resposta exagerada” do sistema imunológico ao identificar uma proteína como suspeita. Os casos têm origem a partir do contato das substâncias com a pele, vias respiratórias ou sistema digestivo.
A alergia, na verdade, nada mais é que uma reação exagerada do nosso sistema imunológico contra as substâncias que deveriam ser bem toleradas por nós. Ele identifica as proteínas como algo que não é bom para nós e reage para eliminar aquilo como se fosse um patógeno, uma doença ou alguma coisa que esteja nos fazendo mal — explica.
Essa reação gera um processo inflamatório prejudicial ao organismo humano, mesmo com a ausência de perigo. Alergista e Imunologista da Santa Casa de Porto Alegre, graduada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Bruna Gehlen descreve a o processo alérgico como uma “reação de hipersensibilidade”. Há três situações mais comuns de alergias, que determinam o local do corpo em que a condição vai se manifestar.
Leite, ovos, frutos do mar, trigo e peixe são os alimentos que mais causam alergias gastrointestinal. Nos casos respiratórios, a inalação de pó e poeira doméstica, como de ácaros que acumulam em estantes e até nos colchões, representam mais risco. Há situações que são consideradas mais raras, mas também pode ocasionar um quadro alérgico, como a exposição ao sol e ao frio.
— O sistema imunológico, que naturalmente serve para nos proteger contra ameaças externas, como micro-organismos, acaba se voltando contra aquela proteína que é para ser tolerada normalmente e gera uma resposta inflamatória danosa ao próprio corpo — explica Renan Augusto Pereira, membro do Núcleo de Alergia e Imunologia do Hospital Moinhos de Vento.
As manifestações alérgicas variam conforme cada caso. No entanto, os especialistas alertam que há sintomas que são característico e podem indicar uma reação alérgica, por isso é preciso estar atento e buscar atendimento médico ao notar:
— Cada reação alérgica tem suas particularidades, logo os sintomas são muito variados — aponta Bruna Gehlen.
Caso não tratados, a condição pode evoluir para um quadro de alergia generalizada, conhecida como anafilaxia e que representa maior risco de morte. Nesta situação, a alergia inicial transita para outras regiões do corpo e afeta mais de um sistema, explica Pereira.
— O principal risco é o de morte, por edema de glote, por parada cardiorrespiratória ou por falta de oxigênio no cérebro, por exemplo. A anafilaxia é um evento potencialmente grave — salienta Renan Pereira.
Buscar auxílio médico ao perceber algum destes sintomas é fundamental para evitar o desenvolvimento da condição. Os especialistas salientam que cada caso é avaliado individualmente e o processo mais importante para o diagnóstico de uma alergia é a análise clínica do histórico do paciente, com base na descrição detalhada dos sintomas.
Há exames que auxiliam no diagnóstico, como o prick test – muito utilizado para identificar casos de asma e rinite. O teste consiste em pingar gotas de alérgenos no braço do paciente, para verificar reação a poeira, fungos, pólens, epitélios de animais ou alimentos, por exemplo. Outra prática conhecida é o patch test, que ajuda a identificar casos de dermatite de contato, através da colagem de adesivos nas costas dos pacientes.
As opções de tratamento contra alergias evoluíram nos últimos anos, o que proporciona mais qualidade de vida aos pacientes. Além dos tradicionais antialérgicos, os imunobiológicos surgem com uma alternativa mais assertiva e menos prejudicial ao organismo humano, a partir do controle de substâncias alérgicas no sangue.
— Os imunobiológicos, que são medicamentos maravilhosos, estão revolucionando o tratamento das doenças alérgicas, principalmente da asma, dermatite atópica e da urticaria crônica espontânea. Eles bloqueiam as reações que causam aquelas alergias e controlam os sintomas — explica Helena Velasco.
Cada patologia requer um tratamento de acordo com suas especificidades, pontua Bruna Gehlen. Em casos de doenças respiratórias, por exemplo, sprays nasais auxiliam a controlar a inflamação. Outra opção conhecida é a imunoterapia, um tratamento longo e que ensina o organismo a tolerar a substância que lhe causa a alergia, a partir da administração de pequenas doses da proteína.
Ainda não regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a caneta de adrenalina é uma medicação, utilizada em outros países, capaz de controlar crises alérgicas graves. A aplicação do medicamento é realizada pelo próprio paciente, durante um quadro grave de reação alérgica.
— Existem alguns casos em que a pessoa precisa portar consigo a caneta de adrenalina, para que, caso haja algum incidente que culmine em uma anafilaxia, ela aplique a medicação imediatamente — comenta Renan Pereira.