A suplente de deputada estadual Bárbara Penna (Podemos) e o marido, Robson Medeiros da Silva, foram indiciados pela Polícia Civil por suspeita de extorquirem um então assessor de bancada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
João Cláudio Almeida da Silva, 59 anos, teria sido indicado à vaga por Bárbara. Ele registrou ocorrência alegando que era obrigado a repassar parte do salário ao casal, prática conhecida como rachadinha. Após procurar a polícia, ele acabou perdendo o cargo.
O assessor disse à polícia que teria de devolver quase a metade do salário que ganhava no cargo.
— Ele (Robson) me chamou no WhatsApp dizendo que ia me colocar na Assembleia Legislativa, que eu ia ganhar R$ 6,1 mil e teria de devolver R$ 3 mil para eles — afirma João Cláudio.
Procurado, Robson não quis se manifestar e disse que passaria, por mensagem, o contato de seu advogado, o que não ocorreu. Já Bárbara disse que "apesar da suposta alegação levantada", manterá sua "postura de silêncio até que tudo seja devidamente esclarecido durante os trâmites legais".
O ex-assessor relatou, que conseguiu o emprego graças a Robson, de quem foi colega de trabalho. João Cláudio foi efetivado no dia 17 de abril de 2024.
— Como eu trabalhei somente 15 dias no primeiro mês, não dei nada. Daí, no segundo mês (maio), ele foi na minha casa e começou a me apertar — contou o ex-servidor.
Na ocorrência policial, João Cláudio afirma que, no dia 31 de maio deste ano, fez uma transferência de R$ 2,5 mil a Robson.
— Fiz via Pix, mas ele queria em espécie. Falei: "Não tem como, o banco não está liberando dinheiro para ninguém por causa da enchente". Daí ele aceitou — relatou.
Com o objetivo de buscar esclarecimentos na bancada do Podemos na Assembleia, o ex-assessor disse que relatou a extorsão a um coordenador. Ele afirmou que foi informado de que qualquer cobrança além dos 5% legalmente pagos à legenda seria irregular. Ele, então, procurou o marido da suplente, que devolveu o dinheiro.
— Não deu um mês depois, ele começou a me perseguir — diz João Cláudio.
O ex-assessor disse ainda ter sido forçado a assinar um termo de "desculpas e retratação", com data de 9 de setembro, em que afirmaria que a acusação contra o casal "não condiz com a verdade" e que declarava "arrependimento". No entanto, João disse ter recusado a endossar o documento.
— Chegou um dia que o coordenador da bancada me disse: "Eles pediram o teu cargo. Tu sabe por que eles pediram o cargo de volta, né? Porque a gente descobriu a falcatrua que eles estavam fazendo" — relata o ex-assessor.
Para João Cláudio, "o partido é conivente".
— Procurei a secretária do presidente, e ela não me deu resposta — reclama.
Procurado pela reportagem, o líder da bancada do Podemos na Assembleia Legislativa, deputado Prof. Claudio Branchieri, disse não ser o responsável pelas indicações de cargos e se declarou "indignado" com a denúncia. Ele informou que, dentro da bancada, o ex-assessor era cargo da liderança do partido.
Por sua vez, o líder do partido na Assembleia, deputado Airton Lima, admitiu que Jorge foi exonerado a pedido da suplente e que não sabia o motivo da demissão.
Em nota, o presidente do Podemos no RS, Everton Braz, afirmou que a denúncia registrada na Polícia Civil nunca havia sido comunicada ao partido e que a sigla "condena veementemente qualquer prática que desrespeite os princípios de honestidade e legalidade".
Além de ser eleita suplente de deputada estadual em 2022, quando ainda pertencia ao União Brasil, Bárbara Penna concorreu a uma vaga na Câmara Municipal de Porto Alegre, tornando-se suplente pelo Podemos com 3.057 votos.
Segundo sua prestação de contas, arrecadou na campanha R$ 276 mil, dos quais R$ 81 mil foram destinados ao marido, Robson, para a "criação e produto de conteúdo audiovisual".
Bárbara Penna ficou conhecida após ser vítima de tentativa de homicídio pelo ex-namorado João Guatimozin Moojen Neto, condenado por colocar fogo no apartamento dela em novembro de 2013. O incêndio deixou três mortos: dois filhos de Bárbara e um vizinho.
O ex-namorado colocou fogo na casa após despejar álcool no corpo dela e no chão da residência. Ao correr para pedir socorro pela janela, Bárbara despencou do terceiro andar do prédio. O fogo se espalhou pelo apartamento e a fumaça intoxicou e matou os filhos do ex-casal, Isadora, de dois anos, e João Henrique, de três meses, que dormiam no quarto. Um vizinho que tentou salvar as crianças também morreu.
No ano passado, o jornal O Globo revelou que a atriz Juliana Paes deve protagonizar um filme sobre a vida de Bárbara Penna.
"A denúncia registrada na Polícia Civil nunca foi comunicada ao diretório estadual do partido. O Podemos sempre preservou sua reputação e condena veementemente qualquer prática que desrespeite os princípios de honestidade e legalidade. O partido apoia integralmente a investigação pelas autoridades competentes e se compromete a colaborar de forma ativa e transparente em todos os esclarecimentos necessários.
A exoneração do antigo assessor não teve relação com o assunto em questão. Havia um acordo com a então candidata Bárbara Penna para que ele permanecesse no cargo até agosto, após ele se dedicaria integralmente à campanha de Bárbara para vereadora
Reforçamos: nenhuma decisão de exoneração foi tomada com base em qualquer outra acusação ou situação similar. O partido tomou conhecimento do assunto apenas após a exoneração do assessor; não houve qualquer relato sobre o tema enquanto ele atuou no cargo."