Frustrado com o resultado das eleições municipais, o PT prepara uma profunda reorganização visando ampliar a política de alianças para 2026. O primeiro passo em discussão é antecipar a troca do comando do partido nos Estados e no diretório nacional. No Rio Grande do Sul, o objetivo é manter a esquerda unida e atrair partidos de centro para a disputa pelo Palácio Piratini e ao Senado.
O pedido partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora o PT tenha aumentado o número de prefeituras conquistadas em relação a 2020, passando de 183 para 252 municípios, há um entendimento majoritário de que o partido não consegue dialogar com setores expressivos da sociedade, sobretudo jovens, evangélicos, profissionais uberizados e empreendedores de pequeno porte.
Na avaliação de Lula, é preciso urgência na atualização do ideário petista, com um reposicionamento do discurso. O objetivo é se aproximar do centro, reproduzindo nos Estados alianças com partidos que fazem parte da base de sustentação do governo no Congresso, como PSD e MDB, não por acaso as legendas que mais conquistaram prefeituras na eleição deste ano.
No Rio Grande do Sul, essa tese será defendida em candidatura própria à presidência do diretório estadual pela tendência Movimento PT. A corrente é minoritária na divisão interna de poder, mas a ideia de convergência ao centro com alianças mais heterogêneas é defendida também pelo ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, principal liderança do PT gaúcho.
— Nosso grande desafio no Rio Grande do Sul é atrair essas forças de centro, como PSD, o PDT, que não esteve conosco em 2022, e manter a união da esquerda, com PSOL e PSB. É preciso ampliar o debate. O governo Lula tem todos esses partidos na base, mais MDB e União Brasil. É possível reproduzir essas alianças em vários Estados — afirma Pimenta.
Por enquanto, a sucessão partidária ainda não ganhou terreno no RS.
Tanto a presidente estadual, Juçara Dutra, quanto a do PT de Porto Alegre, Laura Sito, são vinculadas a Pimenta. O ministro tende a manter a hegemonia, muito por conta da proximidade com Lula, e terá o desafio de fazer avançar movimentos ousados, como abrir mão de uma das duas candidaturas ao Senado em 2026 em prol de um nome de centro, como o do governador Eduardo Leite (PSDB).
Até então considerada inconcebível, a iniciativa engatinha no PT gaúcho mas ganha força no Palácio do Planalto como exemplo de uma aliança informal fundada num objetivo pragmático para 2026: derrotar candidaturas bolsonaristas, sobretudo ao Senado. O PT apoiou Adiló Didomenico (PSDB) em Caxias do Sul e recebeu apoio de Leite e da prefeita Paula Mascarenhas a Fernando Marroni (PT) em Pelotas, duas candidaturas vitoriosas no último domingo, mas em ambos os casos isso só ocorreu no segundo turno, quando um dos lados já estava fora da disputa.
Todavia, dois representantes do PSDB, um vereador eleito e um suplente da próxima legislatura, estavam no caminhão de som em que Marroni festejou a vitória no domingo e deverão se incorporar à base de sustentação na Câmara, onde o PT tem apenas sete das 21 cadeiras. Nos próximos dias, Marroni abre negociação com o União Brasil.
À frente do quarto maior município gaúcho, o novo prefeito lidera a Zona Sul, região em que PT obteve o mais expressivo êxito eleitoral este ano, com vitórias também em Rio Grande, São Lourenço do Sul e Bagé. Embora sejam de correntes diferentes no partido, os quatro eleitos concordam com a necessidade de o PT convergir para o centro.
— Sou de esquerda e quero ganhar a eleição. Como vou governar, se sabidamente a esquerda não faz maioria? Então tem de buscar o centro já no processo eleitoral, senão perde a disputa. Esse tem de ser o norte para 2026 — apregoa Luiz Mainardi (PT), prefeito eleito de Bagé.
Em reunião na segunda-feira (28), a direção estadual não discutiu o futuro do partido. Os dirigentes analisaram apenas a eleição, cujo resultado ficou abaixo das expectativas. No início do ano, a meta traçada era conquistar entre 30 e 40 municípios, mas as urnas concederam apenas 20 prefeituras aos petistas, pior performance dos últimos 12 anos no Estado.
No país, o número de vitórias aumentou de 183 para 252, mas ainda longe dos 652 municípios conquistados em 2012. O desempenho gerou cisões, com a presidente nacional, Gleisi Hoffmann, trocando farpas em público com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para quem o partido está no “Z4 (zona de rebaixamento) das eleições municipais”.
A divergência faz crescer em Lula a vontade de acelerar a sucessão partidária, marcada para maio. A intenção do presidente é realizar as eleições internas entre o final de novembro e a terceira semana de dezembro, fato considerado improvável ante o prazo exíguo.
O preferido de Lula para o comando partidário é o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva. Já o grupo de Gleisi defende o deputado José Guimarães (CE), expoente do grupo do Nordeste, tida como fortaleza eleitoral do PT, mas onde a legenda venceu em apenas uma capital neste ano.