O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou nesta quinta-feira (20) o inquérito sobre as campanhas do Google e do Telegram contra o projeto de lei (PL) das fake news. O arquivamento era um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). O texto busca regulamentar o uso de redes sociais e plataformas online.
A decisão de Moraes contraria as conclusões da Polícia Federal (PF). Para a corporação, as empresas lançaram mão de "estratégias impactantes e questionáveis" para tentar barrar a aprovação do projeto de lei e, com isso, incorreram em abuso de poder econômico e publicidade enganosa.
O relatório final da PF acusa as big techs de usarem suas "posições privilegiadas" no mercado para incentivar ataques e espalhar notícias falsas sobre o texto com o objetivo de proteger seus interesses econômicos.
Já a PGR concluiu que a "divulgação de ideias contrárias" ao texto "não é suficiente" para comprovar que houve crime. O vice-procurador-geral da República, Hindenburgo Chateaubriand Filho, reconheceu que as plataformas agiram movidas por interesse próprio. No entanto, na avaliação dele, isso não é suficiente para demonstrar "intuito de abolir o regime democrático ou tolher o exercício regular dos poderes constitucionais".
A investigação foi aberta em junho de 2023, a pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que ainda não conseguiu destravar a proposta para regulamentar as plataformas ou outra equivalente.
O Telegram disparou, para milhões de usuários, um manifesto contra o projeto de lei. A mensagem chamava a proposta de "desnecessária" e dizia que ela "concede poderes de censura ao governo". O aplicativo alegou no processo que é uma plataforma "neutra" e minimizou a iniciativa. O Telegram afirma que usou o canal para expressar a opinião da empresa sobre um tema que pode impactá-la, mas negou ter feito uma campanha "ativa e consistente" contra o projeto de lei.
Já o Google exibiu, em sua página inicial, uma mensagem de alerta contra o PL. Os usuários que clicavam no link eram direcionados para um artigo de opinião do diretor de Relações Governamentais e Políticas Públicas do Google Brasil, Marcelo Lacerda, que acusava o texto de "aumentar a confusão entre o que é verdade e mentira no Brasil". Marcelo Lacerda e outros representantes da empresa foram ouvidos pela PF. Eles informaram que o Google gastou R$ 2 milhões em anúncios sobre o projeto de lei, mas negaram que o objetivo fosse pressionar parlamentares a votar contra o texto.
Um monitoramento do jornal Estadão revelou que a pressão das empresas fez com que pelo menos 33 deputados mudassem de posicionamento entre a aprovação do requerimento de urgência e a retirada de pauta, o que ocorreu em um intervalo de 14 dias. Representantes das big techs estiveram diversas vezes no Congresso e parlamentares confirmaram à reportagem que o lobby foi intenso, inclusive com ameaças de remoção de conteúdo.