Mesmo sob muita expectativa, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, não fez grandes anúncios na sua visita a Caxias do Sul nesta segunda-feira (27). Após encontro com lideranças empresariais na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC), Alckmin concedeu coletiva de imprensa e afirmou que a divulgação de medidas para grandes empresas deve ocorrer nesta terça-feira (28).
Segundo o vice-presidente, um encontro entre o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda nesta segunda, iria definir os últimos detalhes de uma medida provisória. A expectativa é que a resolução apresente programas de apoio às empresas, com foco nas grandes indústrias, com investimento do governo federal que deve chegar a R$ 15 bilhões.
— Está praticamente elaborada a medida provisória, que deve definir a questão desse crédito para as grandes empresas. Mas tenho certeza de que vai surpreender positivamente a todos. As (medidas para) grandes empresas serão anunciadas entre hoje (segunda) e amanhã — garantiu o vice-presidente.
Ainda na coletiva, Alckmin reforçou a liberação de programas de auxílio a juro zero, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) e Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Estas medidas já haviam sido anunciadas pelo governo federal e passaram a valer a partir desta segunda.
De acordo com o vice-presidente, a lei da depreciação acelerada será sancionada nesta terça-feira, que será uma medida para renovação de máquinas e equipamentos. Alckmin também destacou que tem "convicção" na reconstrução do Estado.
— A depreciação de uma máquina, geralmente, ocorre em 15 anos, e vai ser feita em dois anos. São R$ 3,4 bilhões. Quero dizer da minha convicção. Nós tivemos uma destruição grande no Rio Grande do Sul, mas ela não será maior do que a reconstrução — finalizou.
Na CIC, Geraldo Alckmin esteve acompanhado dos ministros Extraordinário de Apoio à Reconstrução, Paulo Pimenta, do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e do Empreendedorismo e Microempresa, Márcio França, além do governador Eduardo Leite. Pela manhã, ainda em Caxias, Alckmin visitou o parque fabril da Marcopolo e conheceu projetos de descarbonização.
À tarde, após encontro na CIC, o vice-presidente foi ao Sindicato dos Empregados no Comércio (Sindicomerciários) de Caxias do Sul. Lá, recebeu demandas dos sindicalistas para preservação do emprego e prorrogação das convenções coletivas por 180 dias.
Havia expectativa muito alta dos empresários e inclusive por parte do governo estadual de anúncios mais impactantes. Uma das preocupações, reforçadas pela CIC no encontro com Alckmin, é com as questões trabalhistas. Há um temor de que várias empresas afetadas pela calamidade não consigam dar conta dos vencimentos no próximo dia 5, e o setor demanda medidas de auxílio do governo federal para fazer os pagamentos.
Essa é uma das principais demandas do presidente da CIC Caxias, Celestino Loro, que entregou documento ao vice-presidente com esta e mais duas reivindicações: restabelecimento dos acessos rodoviários e injeção de dinheiro novo para recuperação de estruturas produtivas "abaladas".
— Estamos com muita expectativa para esta medida provisória — resumiu Loro, após o encontro.
Quem também aguarda uma movimentação da União neste sentido é o governador Eduardo Leite, que definiu a manutenção do emprego e renda como "o que mais nos preocupa".
— Ainda não se viabilizou. Nós estamos demandando, com absoluta urgência, um programa de benefício emergencial onde o governo suporte parte do custo do salário para evitar as demissões. Isso aconteceu na pandemia. A gente precisa que ele seja colocado em ação antes que as demissões aconteçam por parte das empresas. Vejo disposição de avançar, mas, por alguma razão que ainda não conseguimos entender qual, não conseguiram (governo federal) dar esse passo — demandou o governador.
Na coletiva, Alckmin limitou-se a dizer que recebeu o documento da CIC relacionado à segurança trabalhista, e repassou ao secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Francisco Macena, que acompanhou a comitiva, para verificar as propostas feitas.
Em nota, o gabinete do vice-presidente afirmou que, durante a visita ao Sindicomerciários, ele "se comprometeu em nome do governo de que construirão alguma proposta que atenda a demanda de proteção dos empregos mas respeitando as especificidades de cada lugar dentro do Estado, pois as realidades não são homogêneas".
Coube ao ministro da Reconstrução, Paulo Pimenta, falar de outras áreas de enfrentamento do governo federal na calamidade gaúcha. Nesta segunda-feira, o governo federal liberou o pagamento do auxílio de R$ 5,1 mil para mais de 44 mil famílias atingidas pelo desastre climático no Rio Grande do Sul. O anúncio da liberação foi feito por Pimenta durante a coletiva.
Na CIC, o ministro falou sobre a proposta de levar equipamentos do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para o Hugo Cantergiani, em Caxias. A ideia é transferir o ILS (Sistema de Pouso por Instrumento, em português), instrumento que praticamente guia o piloto até o pouso quando a névoa encobre a pista.
—Já formalizamos uma solicitação à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e ao Ministério dos Portos e Aeroportos para que esse equipamento possa ser utilizado aqui (em Caxias) durante o período em que o Salgado Filho não está operando. Estamos correndo a toda velocidade para tentar capacitar ao máximo, para que nós possamos ampliar a utilização do aeroporto — afirmou Pimenta.