É difícil para um cantor regravar uma música já definitivamente associada a outro intérprete. Como encarar Como nossos pais (Belchior, 1976) depois de Elis Regina (1945 – 1982)? Como interpretar Beatriz (Chico Buarque e Milton Nascimento, 1983) depois de Milton Nascimento? Como entrar nas águas de Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971) depois de Gal Costa (1945 – 2022)?
O risco de fazer um registro aquém do original é grande, mas tem intérprete que se arrisca e se dá bem. Mônica Salmaso já atingiu os céus cantando Beatriz.
Tudo isso é para dizer que Xande de Pilares conseguiu imprimir a marca dele em Banho de folhas (2017), música associada primordialmente à voz da cantora e compositora Luedji Luna, parceira de Emillie Lapa na composição, ainda a música mais conhecida do repertório da artista baiana.
Na gravação lançada na quinta-feira, 3 de outubro, Xande parte da cadência do ijexá para cair no samba. Feita sob direção artística de Felipe Bueno, com produção musical de Luciano Broa e arranjo de Nelio Junior, a gravação é tão simples quando bonita.
Xande dá banho com as folhas de Luedji como se a música tivesse brotado em quintal carioca, mas com a raiz afro-brasileira do tema. Com o single Banho de folhas, Xande de Pilares confirma o ótimo momento artístico.