Muitas vidas Chico Buarque viveu em seus 80 anos, completados nesta quarta-feira (19). Músico, letrista, escritor, boleiro e até criador de jogo de tabuleiro. Foram décadas de caminhos que, algumas vezes, o levavam aos chamados "rolês aleatórios".
Muitas curiosidades sobre Chico também se acumularam ao longo desses anos, e GZH traz cinco delas. Confira!
Chico não era um artista bem quisto pelos censores da ditadura militar nos anos 1970. Houve um momento em que uma música teria grandes chances de ser vetada simplesmente por ter sua assinatura. Então, entrou em cena Julinho da Adelaide.
Sob o pseudônimo criado para driblar a censura, Chico conseguiu a aprovação de canções como Acorda Amor, Jorge Maravilha e Milagre Brasileiro. Aliás, Julinho da Adelaide deu até entrevista ao jornal Última Hora — tudo combinado entre Chico e o jornalista Mario Prata.
“Eu me chamo Julinho da Adelaide porque todo mundo só me chama assim lá no morro. Acontece que a minha mãe é mais famosa do que eu lá no Rio (....) Estava no primeiro elenco do Orfeu Negro. Foi amiga íntima de Vinícius de Moraes, Antonio Carlos Jobim e Oscar Niemeyer, que fazia o cenário do Orfeu no Municipal (...) Mamãe tem muita imaginação (...) depois ela viajou com a Brasiliana, casou com o luterano, foi presa na fronteira do Tibet por causa de um monge, aprendeu a fazer cassulé e a feijoada branca. O feijão branco dela é conhecido lá no morro. Então todo mundo perguntava assim: qual Julinho? O Julinho da Adelaide”, inventou o compositor à publicação.
Chico antecipou games como Elifoot e Football Manager, em que o jogador assume o papel de técnico e cartola de um time de futebol. Durante seu exílio na Itália, ele criou um jogo de tabuleiro chamado Ludopédio, que foi lançado pela Grow, no mercado brasileiro, com o nome de Escrete. Chico assinou, espirituosamente, a apresentação do brinquedo: “Foi criado na Itália em 69, época em que seu autor, evidentemente, não tinha mais o que fazer".
O jogo é dividido em duas fases. Primeiro, os participantes atuam como cartolas e controlam administração e formam as equipes. Depois, o jogador assume o papel de técnico, e os cartões de jogadores negociados na fase anterior são utilizados para uma partida de futebol.
Falando em futebol, Chico é um entusiasta do esporte — especialmente apaixonado pelo Fluminense. Também tem um time para disputar peladas com seus amigos, o Politheama.
Consequentemente, o cantor também costumava ser chamado para partidas beneficentes ou festivas. Por exemplo, teve aquela vez que teve Bob Marley como companheiro de equipe, em 1980.
Durante uma passagem do jamaicano pelo Rio, organizou-se uma pelada que contou com nomes como Toquinho, Evandro Mesquita, Moraes Moreira, Alceu Valença e Paulo Cézar Caju (campeão Mundial pelo Grêmio). A vitória foi de 3 a 0 para o time que uniu Chico e Marley — cada um marcou um gol, além de Caju.
Já em 2007, Chico participou de um jogo beneficente em Lisboa, promovido por Luís Figo — aliás, o músico integrou o time do atleta português. Enquanto esteve em campo, durante 26 minutos, ele atuou ao lado de nomes como Guardiola, Frank de Boer e Rui Costa, contando com Luiz Felipe Scolari como técnico.
A outra equipe era composta por nomes como Zidane e Ibrahimovic. "Quando eu ia arrasar e dar um chapéu no Zidane, o professor me tirou", brincou o músico ao ser substituído.
Em 13 de setembro de 1973, Chico se apresentou em Caxias do Sul no ginásio do Colégio do Carmo. Estava acompanhado do grupo MPB4.
O responsável pela articulação da vinda do artista para a serra gaúcha foi o então presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), José Ivo Sartori. Sim, o governador do Estado entre 2015 e 2019.
— Era um ano difícil politicamente, por causa da falta de liberdade. Ele veio por causa de um movimento de MPB em circuitos universitários, com caráter musical mas, principalmente, político. E a canção que mais chamou atenção foi Cálice – contou o ex-governador ao jornal Pioneiro, em 2014.
Sartori ainda precisou dar explicações no quartel sobre a promoção do show, como conta a publicação. Com a promulgação do AI-5 (1968-1978), a censura consolidou-se e em 1972 foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), que podia censurar ou simplesmente proibir qualquer material artístico.
Não foi em um caderno cultural que Chico fez sua primeira aparição na imprensa. Na verdade, foi em uma página policial, do jornal Última Hora, de São Paulo, aos 17 anos. Ele e um amigo arrombaram um carro para passear por algumas horas, mas acabaram presos e surrados pela polícia.
Como pena pelo delito, a Justiça determinou que os jovens não poderiam mais sair de casa à noite até a maioridade. Para Chico, a reclusão domiciliar durou 172 dias
A foto de Chico na delegacia foi usada na capa do disco Paratodos, de 1993.