Um foco da doença de Newcastle foi registrado em Anta Gorda, no Vale do Taquari. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) decretou emergência zoosanitária no estado em razão do diagnóstico.
A enfermidade foi confirmada em uma granja na quinta-feira (17). Por conta disso, as 7 mil aves precisam ser sacrificadas.
Segundo o Mapa, a declaração de emergência "prevê uma vigilância epidemiológica de forma mais ágil com a aplicação dos procedimentos de erradicação do foco".
Entre as medidas, estão ações de sacrifício ou abate de todas as aves onde o foco foi confirmado, limpeza e desinfecção do local, adoção de medidas de biosseguridade, entre outros.
A investigação epidemiológica foi conduzida pela Secretaria da Agricultura do RS, que destinou as amostras para o teste laboratorial. Apuração complementar será realizada em um raio de 10 quilômetros do local, área que abrange cerca de 800 propriedades nas cidades de Anta Gorda, Relvado, Doutor Ricardo, Putinga e Ilópolis. Ao menos 500 mil aves estão concentradas nesta região e podem contrair a doença.
Na quinta-feira (18), o ministro Carlos Fávaro esteve em Porto Alegre, em uma reunião do Gabinete Itinerante do Ministério da Agricultura e Pecuária. Ele afirmou que não há vestígio de mais animais doentes na própria granja nem na região, que já esta isolada.
Reportagem conversou com um especialista sobre o assunto, o professor de Medicina de Aves da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS Hamilton Luiz de Souza Moraes, que esclareceu dúvidas sobre a doença:
A doença de Newcastle é uma enfermidade viral que contamina aves domésticas e silvestres. Ela é causada pelo vírus pertencente ao grupo paramixovírus aviário sorotipo 1 (APMV-1). Com isso, as aves apresentam sinais respiratórios, seguidos por manifestações nervosas, diarreia e edema da cabeça.
O especialista explica que a doença pode causar, no máximo, conjuntivite transitória em humanos, podendo durar cerca de uma semana. A transmissão ocorre pelo contato, e não pelo consumo.
— Ela é o que a gente chama de uma zoonose classe 2. Ela não causa muitos problemas, no máximo conjuntivite, mas em uma semana, tá bom. Então não é um problema para a saúde pública, vamos dizer assim. O problema maior é para as aves mesmo — explica.
O Ministério da Agricultura "ressalta que o consumo de produtos avícolas inspecionados pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO) permanece seguro e sem contraindicações". A fiscalização e os processos de inspeção garantem que os produtos disponíveis para consumo não oferecem riscos à saúde humana.
A doença é transmitida por aves migratórias infectadas que fazem rotas comuns por meio dos continentes. Por conta disso, elas podem ter ocorrência em qualquer lugar do mundo.
— Em algum momento essas aves se cruzam, então algumas que estejam infectadas podem contaminar outras, e nos locais onde elas estavam podem sair e infectar aves domésticas — explica.
A eliminação de todas as aves do mesmo lote é a metodologia de controle da doença. Isso ocorre pois o vírus é transmitido pelo ar, podendo contaminar a ração, a água e o abrigo aviário. Caso o foco não seja extinto, o surto pode se espalhar para uma região mais ampla.
A medida foi confirmada pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Mapa, em conjunto com a Seapi, que irá seguir o seguinte protocolo:
Existe uma vacina contra a doença de Newcastle, que precisa ser aplicada, preventivamente, antes da transmissão da doença.
A difusão da doença de Newcastle é rápida, pois ocorre por um vírus transmitido pelo ar. O especialista alerta que, se as aves contaminadas saem dos locais onde estão concentradas ou se são mortas e descartadas em lugares inadequados, podem se disseminar para toda uma região.
A enfermidade também é letal, podendo matar quase 100% das aves infectadas. Por conta disso, os órgãos fiscalizadores têm uma preocupação com a dispersão.
Para garantir a contenção do surto, o Mapa afirmou que irá realizar uma investigação epidemiológica complementar em um raio de 10 quilômetros ao redor da área de ocorrência do foco.
O especialista afirma que cada país tem um protocolo. Alguns países regionalizam em raio de 50 quilometros, podendo fechar um Estado ou até o país, dependendo da disseminação da doença.
— Esse vírus se conserva bem na carne congelada, então se a gente exportar a carne com vírus, a gente pode estar contaminando outros locais — explica.
No Brasil, o último registro da doença foi em 2006, nos estados do Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, segundo o ministério. O especialista afirma que o foco da doença no Estado se concentrou no município de Vale Real, a cerca de 90 quilômetros de Porto Alegre.
O especialista explica que a situação em 2006 foram um problema também para os países que importavam o frango à época. Ele afirma que houve uma interdição do produto por cerca de três meses.
— O Brasil é o primeiro exportador mundial de carne de frango, e os países que compram a nossa carne, quando tem surtos dessa doença, não querem exportar daquele local. Então naquela época, em 2006, houve a interdição da importação por mais ou menos 3 meses — revela.