Os efeitos da inundação na economia pegaram em cheio o setor de alimentação fora de casa no Rio Grande do Sul. Metade das 4,2 mil vagas de emprego com carteira assinada fechadas no setor de serviços em maio no Estado está no ramo de bares e restaurantes. Com estabelecimentos diretamente afetados pela força da água ou com falta de demanda diante de problemas de circulação, o setor pede crédito acessível e flexibilizações trabalhistas para sobreviver e frear demissões.
Em maio, o ramo de alimentação, que pega segmentos como restaurantes, bares, lanchonetes e similares, fechou 2.176 vagas de emprego formal no Estado, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). Esse montante ocupa fatia de 51,5% do total de postos destruídos no setor de serviços em maio (4.226).
Entre os cinco grandes setores apresentados no Caged, serviços ocupa a quarta colocação entre os ramos com maior fechamento de vagas em maio, atrás de indústria, comércio e agropecuária. No entanto, o tombo chama a atenção porque tradicionalmente o setor costuma contratar no âmbito de alimentação e hospedagem nessa época de chegada do frio no Estado.
A presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Rio Grande do Sul, Maria Fernanda Tartoni, afirma que os donos de estabelecimentos afetados enfrentam um combo de problemas. A executiva destaca o cenário complexo, em que é difícil seguir pagando salários de funcionários com a empresa sem faturamento e diante de obrigações como empréstimos:
— As pessoas ficaram alagadas. Para ter uma perspectiva de voltar a operar em no mínimo três meses, a primeira coisa é cortar os custos fixos. Demitir, negociar aluguel.
Andrew Romano, 35 anos, sócio-proprietário do Poeta Bar, é um dos empresários afetados pela inundação em Porto Alegre. Além desse ponto, inaugurado no fim de março, ele mantém quatro unidades de varejo no Centro Histórico. Três desses locais, incluindo o bar, foram inundados e outros dois sentiram o impacto da diminuição na circulação na região. Ele conseguiu retomar a operação no bar e em duas unidades comerciais. Diante dos efeitos da enchente, o empreendedor teve de demitir funcionários. No Poeta, que apresentava bons números no primeiro mês, o total de colaboradores caiu de 10 para três.
— Para preservar alguns empregos, a gente precisou desligar outros. Porque, além do impacto de não vender, de não ter receita, de não ter faturamento, a gente tem o impacto da reconstrução, da retomada, das perdas materiais — explica Romano.
Sem a volta de alguns serviços na região do Centro Histórico, que freia o movimento e o volume de vendas no horário do almoço, o empresário aposta em eventos para tentar chegar a pelo menos 50% do faturamento observado em um passado recente.
A presidente do Conselho de Administração da Abrasel afirma que o setor deve apresentar novo dado negativo no emprego em junho. Para os próximos meses, ela afirma que a recuperação depende de ações mais enérgicas por parte do governo federal. Nessa linha, cita a necessidade de crédito barato, com subsídio, negociação de dívidas mais abrangentes e flexibilização de medidas trabalhistas. A reedição do programa que previa a suspensão de contratos de trabalho e a redução de salário e jornada é um dos pleitos do setor.
— A primeira coisa que a gente pediu foi justamente isso, reeditar esse projeto que teve na pandemia para suspender os contratos e o governo pagar o salário do funcionário. Se isso tivesse acontecido, a gente estaria com um pouco mais de fôlego — destaca Maria Fernanda.
A Região Metropolitana está entre as regiões que concentram o maior número de demissões no ramo de bares e restaurantes em razão de inundações em áreas centrais de municípios como Porto Alegre, Canoas e Eldorado do Sul.
Outra região com impacto no emprego no segmento de alimentação fora de casa é a Serra. Além de estragos causados pela enchente, essa região também sofre com o isolamento causado pela paralisação do aeroporto Salgado Filho, que afasta turistas de outras regiões do país.
— Na Serra, teve a dificuldade de chegar. O turismo baixou muito lá, houve realmente um desespero, porque é uma região que vive do turismo — avalia a presidente do Conselho de Administração da Abrasel.
O presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes da Serra Gaúcha (SindTur), Cláudio Souza, afirma que o fechamento do Salgado Filho afeta a dinâmica do emprego na Serra. Sem o fluxo maior nos dias de semana, que eram usados principalmente pelos turistas de fora do Estado, alguns segmentos da economia local acabam demitindo diante da demanda menor. Isso pega tanto o mercado formal quanto o informal, segundo Souza.
— O fluxo esta mais concentrado no final de semana, com turistas aqui do Estado, de Santa Catarina e do Paraná. Com menos turistas em dias de semana, que vinham via operadoras, tem esse impacto no emprego — explica o dirigente.
O presidente do SindTur afirma que a retomada do setor de serviços na Serra está diretamente ligada ao retorno das operações no aeroporto da Capital e no socorro aos empresários, com crédito mais fácil e ágil.