O Rio Grande do Sul desperdiçou 39,5% da água tratada em 2022, segundo uma pesquisa do Instituto Trata Brasil (ITB) divulgada nesta quarta-feira (5). A perda ocorreu quando 1,3 milhão de pessoas não tinham acesso ao recurso no Estado.
O resultado gaúcho foi pior que o verificado no cenário nacional, que indica prejuízo de 37,8% da água potável naquele ano. Goiás teve menos perda entre as unidades da Federação: 28,3%; o Amapá, com 71,1%, lidera o ranking de desperdício. Segundo o instituto, 32 milhões de pessoas sofriam com a ausência de água tratada no Brasil em 2022.
O resultado da pesquisa no Estado é melhor na comparação com a edição de 2023 (com dados de 2021), quando o índice foi 41,5%. No entanto, segue distante do valor obtido em 2015, ano no qual o RS registrou 32% de desperdício.
Porto Alegre perdeu 27% do recurso durante a distribuição em 2022, o terceiro melhor resultado entre as capitais – atrás apenas de Goiânia (GO), com 17,2%, e Campo Grande (MS), que teve 19,8%.
O estudo indica que a água perdida anualmente por conta de vazamentos seria suficiente para abastecer 54 milhões de pessoas durante um ano. O montante diário desperdiçado no país — 7 bilhões de metros cúbicos – equivale a 7,6 mil piscinas olímpicas.
Chamado de Estudo de Perdas de Água 2024: Desafios na Eficiência do Saneamento Básico no Brasil, o levantamento usa dados de 2022 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Os pesquisadores elaboraram uma análise nacional e recortes das cinco macrorregiões, 27 unidades da Federação e dos cem municípios mais populosos presentes no Ranking do Saneamento de 2024. O trabalho teve apoio da consultoria GO Associados.
Veja a evolução da perda de água tratada durante no RS nos últimos anos:
A perda de água durante o abastecimento pode ocorrer por conta de inúmeros motivos; os mais comuns são vazamentos, erros de medição e consumo irregular. O resultado do desperdício é o encarecimento do sistema para o usuário e impacto ambiental e social para os habitantes, segundo o estudo.
No Brasil, a definição de nível aceitável de desperdício de água foi estabelecida pela portaria 490/2021, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR): para um município contar com níveis excelentes de perdas, deve ter no máximo 25% de prejuízo na distribuição até 2034.
— Esse valor parece alto, mas precisamos ter uma meta factível de redução de perdas. O Brasil está atrás de países como a África do Sul, que tem 33%, a China, com 20%, e outros países desenvolvidos que têm indicadores por volta de 15%. Nossa realidade é diferente. Chegar nessa meta – de 37,8% para 25% – geraria um ganho bruto de R$ 41 bilhões até 2034 — estima Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil.
Segundo o ITB, zerar a perda do líquido é possível, mas esse nível de eficiência é inviável por limites econômicos, pois, em determinado ponto, o custo fica superior ao do volume recuperado. Limites técnicos também são citados: existe, por exemplo, uma quantidade mínima de perda associada às tecnologias atuais de materiais, ferramentas e logística. Segundo Luana, o Brasil tem potencial para melhorar no índice:
— Cada concessionária, município e região precisa ter ações efetivas e constantes. É importante que haja sensores de vazão e pressão, conserto rápido dos vazamentos, substituição de redes antigas e manter hidrômetros atualizados. Também é preciso o controle no furto de água, saber a tarifa factível a ser paga pela população, buscando fornecer de maneira regular a água nessas localidades. É necessário ter um plano estruturado para reduzir perdas.
O instituto estimou os benefícios de um cenário de redução de desperdício de água tratada para 25%. O volume anual economizado seria capaz de abastecer mais da metade da quantidade de habitantes sem acesso à água tratada em 2022. Veja na tabela abaixo a vantagem para o país se o objetivo for alcançado.
O trabalho indica que Norte e Nordeste foram, em 2022, as regiões com os maiores percentuais de desperdício de água, com 46,9% e 46,6%, respectivamente. O melhor resultado foi observado no Sudeste (33,9%); Sul registrou 36,6% e Centro-Oeste, 35%.
— As pessoas buscam fontes alternativas de fornecimento quando não há acesso à água tratada. Esse recurso pode ser contaminado e causar diversas doenças. Ocorre também que a população tenha de contratar caminhão-pipa e pagar mais sem a garantia de qualidade. Muitas pessoas precisam caminhar quilômetros para buscar água em uma bica e levá-la para casa. A não existência de água tratada na vida de uma pessoa complica todo o seu bem-estar físico — finaliza a presidente-executiva do ITB.