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Sedentarismo, obesidade, excesso de telas: os fatores que têm influenciado o aumento dos casos de puberdade precoce

Publicada em 20/07/24 às 10:01h - 19 visualizações

por YASMIM GIRARDI


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 (Foto: Gioia / stock.adobe.com)
Mudanças hormonais, físicas e mentais são comuns quando as crianças passam por um processo fisiológico chamado puberdade. Nas meninas, costuma acontecer entre os oito e 13 anos. Nos meninos, entre os nove e os 14. Alguns fatores, como obesidade, sedentarismo, tumores e excesso de exposição a telas, por exemplo, podem antecipar essa transformação. Segundo especialistas, a puberdade precoce é um problema que aparece com frequência nos consultórios.  

Para o sexo feminino, o primeiro sinal da puberdade é o crescimento do broto mamário, estágio inicial do desenvolvimento das mamas. No masculino, o marco do início dessa transição é o crescimento dos testículos. Alguns outros fatores, como o avanço na velocidade do crescimento, o surgimento de pelos – faciais, pubianos ou axilares – e o odor axilar podem acompanhar essa mudança. A precipitação desse processo pode trazer consequências para a saúde física e mental das crianças. Por isso, médicos chamam atenção para a importância de notar os sinais e de fazer exames com frequência.  

— Chamamos de puberdade precoce quando se inicia o crescimento do broto mamário nas meninas antes dois oito anos e o crescimento testicular dos meninos antes dos nove anos. Vários estudos comprovam e nós temos visto, também, que a puberdade está cada vez mais antecipada — afirma Priscila Amaral, hebiatra (especialidade médica que cuida da saúde dos adolescentes).  

Crescendo antes da hora

Uma revisão integrativa, feita por pesquisadores de Campinas (SP) e publicada na Europub European Publications, analisou 23 pesquisas que apontam para um aumento nos casos de puberdade precoce desde a pandemia de covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, o isolamento social, o sedentarismo, mudanças nos horários do sono e a ansiedade contribuíram para o crescimento no número de casos. A hebiatra Priscila Amaral acrescenta à lista problemas relacionados à obesidade e à quantidade de horas passadas em frente a telas, como celulares, computadores e televisões.  

A puberdade precoce pode ser causada por uma doença genética ou um tumor cerebral. Mas, do ponto de vista das coisas que temos algum controle, nos últimos anos temos visto essa associação da puberdade precoce com a obesidade e o abuso de telas, que emitem luz azul e, em teoria, têm um impacto na melatonina, que é o hormônio do sono. A diminuição desse hormônio seria um dos mecanismos de gatilho para desencadear a puberdade antecipadamente — acrescenta. 

Já a obesidade, segundo Mauro Czepielewski, professor do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), é um fator de risco porque pode desencadear mudanças hormonais. Ele explica que, quando uma criança apresenta excesso de peso para idade, o cérebro entende que ela é mais velha. Isso faz com que existam interconexões do tecido adiposo devido ao aumento na produção e liberação de hormônios pelas células de gordura, podendo levar crianças obesas a iniciar a puberdade mais cedo.

Tipos e causas

A puberdade precoce pode ser classificada em dois tipos principais: a central, também conhecida como verdadeira, e a periférica. Alguns estudos e especialistas acrescentam mais um tipo à lista, que é a puberdade precoce isolada. A classificação é importante porque cada espécie de antecipação tem causas específicas e podem apresentar diferentes opções de tratamento

— A puberdade é um fenômeno controlado pelo hipotálamo, uma região da base do crânio que regula, através de hormônios produzidos por neurônios, a própria função da hipófise, que é a glândula-mãe, que tem os hormônios hipotalâmicos e os hipofisários. Eles vão controlar a função testicular e a função ovariana. A puberdade precoce central pode ser decorrente dessa maturação precoce do eixo hipotálamo-hipófise — explica Czepielewski. 

Esses hormônios são responsáveis por promover a produção de estrogênio e progesterona nas mulheres e de testosterona nos homens. Por isso, são essenciais para o desenvolvimento dos órgãos reprodutores, entre outras funções importantes para o sistema reprodutor. Além da maturação antecipada desse eixo, a puberdade precoce central também pode ser causada por tumores cerebrais, anomalias congênitas, doenças crônicas, mutações genéticas e exposição a substâncias tóxicas ou hormonais. 

Quando a produção excessiva desses hormônios sexuais acontece independentemente do controle do eixo hipotálamo-hipófise, os médicos classificam como puberdade precoce periférica. Czepielewski descreve esse tipo de puberdade como casos em que os testículos e os ovários apresentam autonomia. Um documento produzido pela Sociedade de Pediatria de São Paulo indica que as principais causas desse tipo de puberdade são tumores ovariano, testicular ou adrenal, cistos, hipotireoidismo periférico e exposição hormonal exógena.  

Já a puberdade precoce isolada é caracterizada pelo surgimento de pelos pubianos, ou o crescimento testicular, sem que haja o desenvolvimento das outras características típicas dessa transição. É como se apenas uma das etapas do processo puberal fosse antecipada, enquanto as outras não se manifestam antes do tempo previsto. Fatores genéticos, ambientais e hormonais podem explicar a ocorrência desses casos em meninos e meninas. 

— É quando, na menina, surge um broto mamário, mas não avança, não evolui para uma menstruação. Então, há meninas que têm a mama muito sensível, porque o ovário não é uma glândula que não está formada, só está adormecida. E, às vezes, esse ovário adormecido produz um pouquinho de hormônio. Esse pouquinho pode estimular o broto mamário, mas, por não ser sustentado, não evolui para uma mama de adulto — pontua Liliane Herter, ginecologista do Hospital Moinhos de Vento.  

Entre as causas para os diferentes tipos de puberdade precoce, os especialistas também chamam atenção para os disruptores endócrinos, que são substâncias químicas presentes em produtos como plásticos, pesticidas e de beleza, que podem interferir no equilíbrio sistema hormonal. José Paulo Ferreira, pediatra da Santa Casa de Porto Alegre, explica que a exposição a essas substâncias, popularmente conhecidas como metais pesados, podem desregular o equilíbrio hormonal das crianças e antecipar a puberdade:

— Eles são chamados de disruptores endócrinos porque quebram um pouco o padrão normal do sistema endócrino, fazendo com que alguns desses hormônios sejam produzidos mais cedo que deveriam. Isso está em cremes, xampus, desodorante, algumas medicações e alimentos. Então é importante evitar alimentos ultraprocessados ou criança muito pequena usando perfumes e maquiagem. 

Quais são os impactos 

As consequências da puberdade precoce podem ser emocionais, físicas e sociais, afirmam os especialistas. A saúde mental pode ser impactada quando uma criança passa por mudanças físicas antes dos colegas, uma vez que pode resultar em problemas com autoestima e interações sociais. Uma menina que menstrua antes das amigas da mesma idade pode ter dificuldade de lidar com as novas preocupações. Um menino que passa pela puberdade antes dos amigos também pode ficar confuso sobre a nova etapa de vida. 


Edvard Munch / Reprodução


Do ponto de vista mental, é um descompasso, porque quando eles vão entrando na adolescência, ali no final da infância, existe muito uma identificação com os pares. Então uma menina ou um menino que já estão muito avançados na puberdade pode gerar uma perda de identidade de grupo, e isso é ruim, pode fazer com que essas crianças sofram bullying — diz a hebiatra Priscila. 

Fisicamente, o crescimento acelerado pode resultar em uma estatura final reduzida. A ginecologista Liliane pontua que as meninas costumam crescer até três anos após a primeira menstruação, chamada de menarca. Ao passar por uma puberdade precoce, essas outras etapas do desenvolvimento também são antecipadas. Segundo o pediatra Ferreira, as crianças com essa disfunção param de crescer mais cedo que aqueles que passam pela puberdade na idade adequada: 

— Um menino, pela genética do pai e da mãe, tem expectativa de chegar aos 1m70cm de altura ou, uma menina, aos 1m65cm, entram em puberdade precoce e chegam aos 1m45cm ou 1m50cm. Então, eles perdem potencial de crescimento e isso incomoda. Dependendo de quando a puberdade começa, a pessoa pode perder até 10cm da sua capacidade de crescimento. Depois, eles vão ficar mais baixinhos do que o seu grupo social, e isso pode atrapalhar. 

Por conta da aparência, a puberdade precoce pode fazer com que crianças fiquem mais vulneráveis ao abuso sexual. Um dos fatores de risco é que as meninas ficam com corpo de adolescentes, mas com a mente de criança. Czepielewski salienta que as crianças com essa disfunção podem acabar iniciando a vida sexual precocemente, o que também pode ser um problema

— Essas crianças que passam pela puberdade mais cedo às vezes acabam tendo uma grande desorganização social, porque elas começam a se relacionar com crianças mais velhas, a ter comportamento de adulto, a lidar com questões da sexualidade muito precocemente. Isso é muito ruim porque a gente amputa uma parte da infância e, também, porque eventualmente tem risco de gestação na adolescência e outras questões relacionadas à sexualidade, como a contaminação. 

Como é feito o diagnóstico

 A análise clínica é fundamental para iniciar o diagnóstico da puberdade precoce. Depois, os especialistas garantem, é possível fazer exames físicos, laboratoriais e de imagem para entender melhor a classificação e quais as possíveis causas do evento. De acordo com o Ministério da Saúde, o ultrassom pélvico, o raio-X da mão para identificar a idade óssea e a verificação das taxas de hormônios da puberdade são alguns dos exames que costumam ser pedidos nesses casos. 

— Por isso a importância das pessoas se darem conta de que a criança tem de ir ao pediatra não somente quando está doente, mas quando está com saúde. É exatamente na consulta de puericultura que vamos avaliar, entre outras tantas coisas, o peso, a altura, o desenvolvimento, para saber se está adequado para a idade da criança. Então, por exemplo, se vamos acompanhar um menino que vai ao pediatra anualmente, vamos notar que ele está começando a crescer rápido demais e já abre uma suspeita antes de começar a puberdade precoce — ressalta o pediatra José Paulo Ferreira.  

O tratamento

O tratamento da puberdade precoce depende do tipo específico e da causa da condição. Para a puberdade precoce central, por exemplo, os especialistas costumam recorrer aos bloqueadores hormonais. Normalmente aplicados via intramuscular, esses medicamentos são capazes de bloquear a produção de hormônios sexuais dos meninos e das meninas e retardar o desenvolvimento precoce do sistema reprodutor.  

— Essas injeções podem ser feitas de mês em mês, de três em três meses, ou semestralmente. Se a criança preenche aos critérios estabelecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pode receber a medicação. Então, se tiver confirmada a puberdade precoce central, antes da idade adequada, com avanço de idade óssea, a criança consegue o tratamento gratuitamente — garante a ginecologista Liliane. 

Ela explica que os bloqueadores são utilizados até que a criança chegue à idade adequada para passar por essas transições. Por exemplo, se uma menina começou com sinais de puberdade precoce aos seis ou sete anos, pode tomar a medicação até os 11 para, então, menstruar aos 12. Segundo Czepielewski, os hormônios do eixo hipotálamo-hipófise são reduzidos enquanto a medicação faz efeito. 

— Mas esses bloqueadores só funcionam para a puberdade precoce central. Para a puberdade precoce periférica, existem outras substâncias, que também são bloqueadores de síntese dos hormônios. Contudo, esses são tratamentos mais específicos — acrescenta o endocrinologista.  

Durante o tratamento, é aconselhável que a criança seja acompanhada por um médico endocrinologista ou ginecologista pediátrico para avaliar o progresso, ajustar a medicação e monitorar quaisquer efeitos colaterais. Como a puberdade precoce pode ter impactos na saúde mental das crianças, também é recomendável que ela receba suporte psicológico para lidar com as mudanças físicas e mentais dessa etapa. 

Para as crianças diagnosticadas com puberdade precoce isolada, não há necessidade de fazer tratamento com medicações. Ao invés disso, é necessário a observação atenta dos pais e profissionais de saúde, para cuidar o surgimento de outros sinais da disfunção, uma vez que a puberdade precoce central ou periférica ainda pode se manifestar. Visitas frequentes ao médico de confiança são uma boa maneira de garantir esse acompanhamento.




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