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Lavagem de dinheiro: entenda como Nego Di lucrava com sorteios virtuais

Publicada em 15/07/24 às 07:45h - 16 visualizações

por CRISTINE GALLISA


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 (Foto: João Cotta / TV Globo,Divulgação)

Com prêmios atraentes, como dinheiro instantâneo via PIX, celulares e videogames, o influenciador Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di, encontrou em sorteios virtuais uma forma de engajar o público e gerar receita. No entanto, a ação resultou em um esquema que configura lavagem de dinheiro, segundo o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS).

Em uma das promoções, o influenciador gaúcho anunciou:

— Seguinte, internautas: 30 mil no Pix, mais um iPhone 15 + 1 PlayStation 5 por apenas 15 centavos, e já foi 50%. E o que mais tem pra quem tá achando tendo pouco? É mil na hora no Pix, pai. Compra rápido, porque isso aí já tá assim, ó, se encaminhando pra finaleira. Resultado pela loteria federal e sem trampa vai tudo f*... — comunica.

O que parecia ser uma oportunidade de prêmios acessíveis se transformou em uma investigação. Em janeiro, ao promover o sorteio de um carro de luxo blindado, Nego Di chamou a atenção do MP. Nesta sexta-feira (12), o influenciador e a esposa, Gabriela Sousa, foram alvos de uma operação realizada em Santa Catarina. A mulher foi presa em flagrante, mas pagou fiança de R$ 14 mil e foi liberada.

Em nota, os advogados do casal afirmam que não tiveram acesso aos autos dos inquérito. 

A investigação revelou que os depósitos dos sorteios de Nego Di eram canalizados para contas vinculadas à sua esposa, empresas em nome do casal e até parentes. A movimentação financeira chegou a R$ 2,6 milhões.

A promoção envolveu a oferta de uma Porsche, anunciada da seguinte forma pelo influenciador: 

— A Porsche pode ser tua por apenas R$ 0,99. Vai levar essa pra casa com 10 bilhetes premiados valendo 10 mil cada.

Segundo o promotor de Justiça da 8ª Promotoria de Justiça Especializada Criminal, Flávio Duarte, o esquema caracteriza lavagem de dinheiro. De acordo com ele, "todos os valores oriundos das rifas realizadas por esse influenciador são ilícitos".

Esses valores ingressavam inicialmente na conta de uma terceira pessoa, depois eventualmente retornavam para uma empresa e somente depois que já estavam incorporados na empresa, dando uma aparência de lícito e ao mesmo tempo se distanciando daquele valor que se sabia que era ilegal, oriundo de uma contraversão penal, ele adquiriu os bens. Todo esse mecanismo, toda essa dissimulação, esse distanciamento da origem delituosa configura o crime de lavagem de dinheiro — explica Duarte.

Os investigadores descobriram que Nego Di usou parte dos recursos para adquirir dois carros, avaliados em mais de R$ 630 mil.

O MP investiga se esse veículo foi sorteado e qual o paradeiro do mesmo. O promotor ainda indica que não havia nenhum tipo de controle sobre as rifas e nem uma data para o sorteio:

— No meio da ação (do sorteio), ele vendeu o veículo e não houve demonstração que tenha ocorrido um sorteio. Esse carro foi vendido dele diretamente por uma empresa parceira dele de negócios. Mesmo depois da venda desse veículo para uma revendedora, continuaram entrando nas contas dele valores referentes à rifa.

Nota da defesa dos investigados

"A defesa esclarece que ainda não teve acesso ao inquérito conduzido pelo Ministério Público. No entanto, reiteramos que todos os detalhes da situação e a inocência serão devidamente esclarecidas e comprovadas dentro do processo.

Ressaltamos também a importância de evitar especulações e a divulgação de informações referentes a processos que tramitam sob sigilo, a fim de preservar a integridade das investigações e dos envolvidos.

Estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que possam ser prestados dentro dos limites legais."

Como foi a operação do MP

O influenciador digital Nego Di e a mulher dele, Gabriela Sousa, foram alvos de uma operação do MP/RS, que apura a suspeita de lavagem de R$ 2 milhões após a promoção de rifas virtuais que, segundo a investigação, são ilegais. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos no litoral catarinense.

O Ministério Público não divulgou as identidades dos alvos da operação, mas a reportagem confirmou que são Nego Di e a mulher dele.

De acordo com o promotor de Justiça responsável pela investigação, Flávio Duarte, dois veículos de luxo dos investigados foram sequestrados. A arma de uso restrito se registro foi apreendida.

O objetivo das buscas também foi recolher documentos, mídias sociais, celulares, entre outros, para se ter uma dimensão exata dos crimes praticados e valores obtidos pelo casal. O MP também obteve da Justiça o bloqueio de valores, além da indisponibilidade de bens dos investigados e de terceiros vinculados aos fatos apurados.

Carros de luxo foram sequestrados e arma de uso restrito foi apreendida pelo MP — Foto: Divulgação/Ministério Público

Quem é Nego Di

Gaúcho de Porto Alegre, Dilson Alves da Silva Neto, mais conhecido como Nego Di, participou do Big Brother Brasil em 2021. Ele entrou como integrante do grupo Camarote, pois já trabalhava como influenciador digital e comediante. Ele foi o terceiro eliminado do programa, com 98,76%.

Após o reality, ele começou a promover rifas em redes sociais, divulgando no regulamento que "quem comprar mais números" ganha o prêmio. A prática é investigada pelo Ministério Público e motivou a operação contra ele e sua companheira nesta sexta-feira (12).

Nego Di já sofreu sanções da Justiça do Rio Grande do Sul por divulgação de fake news em seus perfis nas redes sociais. Em decisão em maio este ano, o Tribunal de Justiça (TJ), ele teve que apagar publicações sobre a enchente.

Na ocasião, Nego Di alegou que as autoridades estariam impedindo barcos e jet skis de propriedade privada de realizar salvamentos na região de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, por falta de habilitação dos condutores. Além disso, ele também compartilhou imagens de cadáveres boiando que não eram da tragédia em questão, inclusive uma de uma inundação no Rio de Janeiro.

A Justiça determinou a exclusão imediata das publicações e proibiu Nego Di de reiterar as afirmações mentirosas, sob pena de multa no valor de R$ 100 mil.




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